segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Jeff Wall – The Crocked Path @ Santiago de Compostela ‐ Centro de Arte Contemporânea (CGAC)

Jeff Wall, The Thinker, 1986

Jeff Wall, Milk, 1984

Jeff Wall, Insomnia, 1994

Jeff Wall – The Crocked Path Santiago de Compostela ‐ Centro de Arte Contemporânea (CGAC)

Existem fotógrafos e, existem artistas plásticos que criam obras de arte utilizando o media da fotografia. São conceitos muito diferentes sendo facilmente adquiridos quando visionamos uma exposição de arte contemporânea, neste caso o “The Crooked Path” (ou caminho sinuoso) do artista Jeff Wall.
A exposição expõe pela primeira vez na península ibérica, um conjunto significativo de trabalhos do artista marcando de forma decisiva o discurso visual, consolidado e sólido que o artista vem demonstrando e que poderá suscitar nos visitantes novas formas de interpretação dos seus trabalhos.
Para além das obras do próprio Jeff Wall a exposição está também composta por uma ampla selecção de obras de autores que serviram de influência à realização das criações. Jeff Wall quis criar uma analogia material com o seu método de trabalho, onde as referencias ao universo da modernidade ou ao processo aberto que servem de pontos âncora para uma perspectiva de imagem como dispositivo não só visual mas também intelectual.
Jeff Wall é um fotógrafo radicado em Vancouver, no Canadá, cidade também escolhida por muitas das produtoras cinematográficas para rodar os seus filmes. Porém a cidade de Vancouver de Jeff Wall é uma cidade diferente daquela percepcionada pela maioria dos seus visitantes. Tendo nascido e vivido desde sempre em Vancouver é de escolha natural que a vida da cidade seja a matéria‐prima das suas criações. Contudo as fotografias de Jeff Wall não se tratam de instantâneos do dia‐a‐dia dessa cidade, para Jeff Wall as fotografias são um trabalho sobre a memória e a reinterpretação da realidade, um registo miticuloso e pensado ao pequeno detalhe que compõe cada uma das obras apresentadas. No seu trabalho Wall apresenta os furos e inevitabilidades entre a realidade e a ficção num jogo quase de uma composição cénica, fruto de uma fusão entre o teatro e o cinema, desta feita pensado no quadro único considerado pelo conceito de Wall da “arte de não fotografar”. Para Wall mais importante do que procurar pelas fotografias do dia‐a‐dia, é procurar as imagens que se escondem na cidade, em vez de as captar a nu numa câmara fotográfica, Wall guarda essas imagens na sua memória e só posteriormente constrói uma ficção a partir dessa memória, alternando sempre as contribuições da ficção e da realidade em cada fotografia.
Jeff Wall foi um dos primeiros artistas conceptuais a pensar o significado da fotografia dentro de um contexto “pós‐modernista”. Trabalhou muito sobre o cliché fotográfico sobre o clique mágico que cristalizava um momento único. Como alguns fotógrafos dessa geração recorreram a vários meios para falsificar a autenticidade desse momento único. No caso de Wall recorre a uma encenação que encontra um momento único que é repetido vezes sem conta tal como no cinema até acertar com o projecto proposto.
Por todas essas razões as fotografias sejam de pequenas acções que acontecem na rua, pequenos acidentes momentâneos, tudo é encenado tal como acontece no cinema. O próprio processo de colocar as fotografias em caixas de luz tendem a criar o efeito de imagem cinematográfica. Apenas condensada num acto único como um frame. De resto Jeff Wall, é conhecido pelas suas referências às artes plásticas como o caso de “Destroyed Room” ou “Picture of Women” que são inspiradas em artistas como Michael Duchamp, Bruce Norman, Chris Burde ou ainda ao cineasta Rainer Wener Fasbinder. Existem na grande maioria das criações referência a a cenas complexas como acontecia muitas vezes na pintura barroca onde várias personagens cumprem diferentes acções numa única paisagem. Ainda a destacar para as salas: “A Arvore Genealógica: Sobre a tradição fotográfica” onde podemos visionar um conjunto de artistas considerado por Jeff Wall como dos artistas mais influentes da fotografia do século vinte. Assim estão expostos nomes como a americana Diane Arbus, o francês Eugene Atget, o alemão August Sander ou ainda o americano Robert Frank artista que publicou em finais dos anos cinquenta o livro “os Americanos” que Jeff Wall utilizava para fazer desenhos tendo por base as imagens do livro. E ainda a sala dos “Contemporâneos” onde podemos visionar obras de amigos de Jeff Wall. Em diferentes formatos é certo e diferentes tipos de suportes encontramos artistas como Helen Levitt, Christopher Williams, Patrick Faigenbaum. Não fica completo o circuito de referências sem mencionar o Thomas Struth e Thomas Ruff e ainda uma visão muito semelhante aos trabalhos de Jeff Wall de Stephen Shore, fotógrafo americano que ficou famoso por suas imagens de objectos, cenas quotidianas, e pelo pioneirismo no uso de cor na fotografia artística.
Jeff Wall é sem dúvida um dos fotógrafos mais influentes da actualidade. Apesar de amplamente divulgadas as suas fotografias, é no suporte de caixas de luz de grande dimensão que as fotografias ganham com uma visão. Nunca exposto em Portugal surge agora a oportunidade de ver uma pequena retrospectiva em Santiago de Compostela no CGAC até dia 26 de Fevereiro.