sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Encontros da Imagem 2011

Na semana passada desloquei-me até Braga para visitar os Encontros da Imagem. O festival de fotografia mais antigo da Península Ibérica, criado em 1987. O certame festeja este ano a sua 21ª edição, demonstrando já uma sólida afirmação como evento de destaque para a fotografia tanto a nível Nacional como Internacional. Para esta edição estão representados 36 artistas, de várias nacionalidades, todos com um elo comum à temática social. “Novas Visões na fotografia social” foi o tema escolhido, tendo por base as constantes transformações sociais, políticas e económicas que se tem vindo a sofrer nos últimos tempos a nível global.
No Museu da Imagem encontra-se uma das exposições mais importantes. Stéphane C. apresenta “They Never Adopted the Name for Themselves”. Um trabalho sobre o poder imaginativo de quem o vê revelando um “combate espiritual e interior, anímico, fruto de uma dualidade e ambiguidade”. Sem uma referência temporal ou espacial, as fotografias contrastadas a preto e branco, ganham uma vitalidade pelo espaço que ocupam.
No percurso por mim realizado, segui para o Museu D. Diogo de Sousa, onde está a exposição do colectivo português Kameraphoto. A exposição que surgiu de um repto realizado aos fotógrafos deste colectivo português partiu de uma forma de registo à realidade nacional, criando uma pluralidade de olhares construindo uma narrativa visual sobre a memória colectiva. Não nego que a minha fasquia para esta exposição estava “alta” e saí dela super satisfeito, o colectivo merece o reconhecimento que lhes tem sido feito. A exposição tem uma qualidade muito acima da média, quer pelo lado estético quer pelo lado técnico. Comparável com a exposição “El puder de la duda”que estava presente no ICO da Photoespaña, esta exposição não é um mero conjunto de imagens bonitas, mas uma provocação pelos valores actuais da nossa sociedade.
O trabalho da Marina del MAR (que se encontra na Casa dos Crivos) foi outras das grandes surpresas. Ela documenta com precisão os conteúdos do quotidiano festivo de Almeria. É um trabalho dirigido às pessoas da festa e não aos acontecimentos que fazem parte dela. Uma visão sobre o ambiente levado a um lado mais humano através do “retrato” minucioso sobre o detalhe de uma festa. ”Um mundo feliz”, titulo escolhido para esta exposição, enquadra-se na perfeição no registo social, temática que envolve esta edição dos Encontros da Imagem!
Quando em Junho passado comecei a receber informações sobre esta edição dos Encontros da Imagem, fiquei logo curioso com o trabalho do Irlandês Dragan Tomas. Consultei a página do artista e encontrei o “Leaving the Road”. O portfolio exprime uma profunda paixão pela comunidade de Irish Travellers, que vivem em part-time no lado norte da cidade de Cork, na Irlanda do Sul. A leveza do trabalho é de uma mestria sublime. A exposição está presente num espaço multifunções, onde para além de galeria encontra-se um salão cabeleireiro muito alternativo de nome Pedro Remy. Tornando esta exposição mais um “must see” destes Encontros da Imagem.
O Brasileiro Pedro Stephan apresentou na galeria Show Me um trabalho muito curioso sobre “Luana Muniz, a rainha da Lapa”. Um registo intimista sobre o mundo trangêneros. Para além de inovador pela temática muito pouco abordada no meio fotográfico, a exposição destaca-se pela forma como se apresenta na galeria.
A parte final do percurso foi dedicada ao Mosteiro de Tibães. Já referi por diversas vezes que é um local fantástico para acolher as exposições. Este ano não é excepção. Na sala de entrada do Mosteiro está a exposição “New Life | New Document”. Uma visão de vários fotógrafos sobre a vida quotidiana de países de leste, demonstrando uma pequena fracção das tendências contemporâneas da fotografia documental Checa, Húngara, Polaca e Eslovaca. Aqui o escriba chegou a confundir algumas das fotografias com o trabalho do mestre Martin Parr, de tal forma se fazia notar a brilhante qualidade dos trabalhos expostos.
Por vezes os acasos são bons! Estou a referir-me ao Mexicano Óscar Fernando, que começou na fotografia quase por brincadeira e que mostra pela primeira vez fora do México um trabalho fabuloso, sobre um ponto de vista do seu local de trabalho – o táxi, que conduz em Montrey. Uma visão particular e apaixonada sobre a cidade e arredores, relatados de uma sensibilidade que quem está envolvido com a arte de uma forma mais liberal e despojada de uma forte tendência estética ou técnica.
Para terminar a visita, estava colocado um grande painel com as setenta propostas concorrentes ao prémio Emergentes DST. Numa iniciativa colectiva entre os Encontros da Imagem e a DST que visa premiar um portfolio, ficando automaticamente seleccionado a integrar a próxima edição do festival.
Se gosta de fotografia recomendo uma visita até finais de Outubro a Braga à 21ª edição destes Encontros. Mais informações em http://encontrosdaimagem.com