quarta-feira, 9 de novembro de 2011

IV Filminho – 22 a 20 de Outubro















A Fronteira é utópica no cinema Minhoto
No final do mês de Outubro decorreu em Vila Nova de Cerveira e em Góian a IV edição do Festival de Cinema transfronteiriço – Filminho.
O Festival de Cinema que marca presença no Norte de Portugal e no Sul da Galiza, com uma ponte física, mas de um rio comum - o Minho. É de uma fronteira utópica, com um simbolismo facilmente transponível, como para estar num lado do rio e não esquecer o outro.
No primeiro fim-de-semana o Filminho desenvolveu um workshop para os mais novos na biblioteca de Cerveira. Durante uma hora crianças galegas e portugueses participaram num workshop sobre literatura, música e cinema.
Na Associação cultural Porta XIII decorreu uma sessão de poesia dedicada ao escritor goianés Eliseo Alonso. No mesmo local foi inaugurada a exposição de fotografias do mesmo autor, de um registo do rio entre as décadas de 60 e 70 sob o tema “O Pai Miño”, que ficará até ao dia 30 de Outubro.
A sessão de poesia decorreu na associação de poesia porta treze, na qual participaram amigos do desaparecido poeta e personalidades do mundo da poesia como María XoséQueizán, Marta Dacostaou Marga do Val. Num total de 17 pessoas que recitaram e lembraram o finado escritor desaparecido em 1996 quando preparava um livro de viagens pela América. Dezassete poemas foram recitados na porta treze, espaço pequeno e acolhedor para as dezenas de pessoas que pretenderam marcar presença, manifestando um apego que sentiam pelo escritor carinhosamente conhecido como Saito. O acto teve a introdução e foi moderado pela professora Helena Pousa.
O documentário “Lanzo das Imaxes”  foi o arranque oficial para esta edição do Filminho. O cine-teatro dos bombeiros em Vila Nova de Cerveira, contou encheu para assistir à estreia deste documentário realizado entre as duas margens do Minho.
No segundo fim-de-semana o magnífico auditório de Goian acolheu as sessões de cinema. Na sexta-feira passou o Documentário Pachama, título que significa para os indígenas andinos mãe-terra e designa a deusa agrária dos camponeses. Narra a viagem do director pela floresta brasileira em direcção ao Peru e à Bolívia, onde encontra a realidade de povos historicamente excluídos do processo político de seus países e que, pela primeira vez na história, buscam uma participação efectiva na construção do seu próprio destino. Num olhar não só para a fronteira do Filminho, mas sim de outras fronteiras.
A tarde de sábado foi preenchida com os dois documentários: Digna Rabia um filme sobre as vida das mulheres espanholas no período pós-guerra. Uma visão directa sobre a luta das mulheres na afirmação da vida social e politica mostrando a revolta e consequências de uma época tão próxima que chega a tornar-se surreal a forma de vida desta geração com quatro décadas de distancia.
A fechar a tarde veio o documentário Deudocrácia. Uma visão de Aris Hatzistefanou e Katerina Kitidi, jornalistas e realizadores que se juntaram a Leonidas Vatikiotis realizando um documentário sobre as causas da crise financeira que a Grécia atravessa neste momento, relacionando-a com toda a complexa situação mundial e apontando soluções possíveis para uma saída. Um visão tão próxima de uma realidade que infelizmente está a afectar também os povos da península ibérica.
A começar a noite o Colectivo Enfarte apresentou a performance Manipulieren Mich 3.0. Uma exploração à volta da manipulação mediática, que parte do cruzamento e interacção/manipulação entre o desenho digital e o corpo/movimento dos performers, com uma forte linguagem que visa transpor para o espaço cénico uma contestação às politicas sociais e a forma que o poder dos media se concentram no quotidiano. Um jogo forte entre o real extrapolado numa verdadeira luta pela afirmação do poder que ainda resta e não se altera com o tempo. 
O elevado nível de qualidade da programação deste ano do Filminho, consagrou-se com o filme concerto de sábado. No centro cultural goianés, os La La La Ressonance sonorizaram em tempo real o filme de Murnau – Fausto. O colectivo de Barcelos já consagrado por vários festivais do género, levou à cena um filme concerto. É mais do tornar vivo um filme, é a forma de conseguir dar uma visão forte às imagens que vão sendo projectadas. O filme já uma referencia na história do cinema, foi assim arrebatado para uma particular visão sonora.
Se o Sábado foi um dia composto, o evento de encerramento do festival foi algo sublime. Numa apresentação final do programa educativo desta edição do Filminho, Esperanza Vázquez López apresentou um espectáculo para miúdos e graúdos, tendo por mote o livro infantil de Eliseo Alonso - “Reiciñeira”. Uma nobre e justa homenagem ao escritor Galego, que uma forma magnifica foi evocado nesta edição de um festival que fortalece cada vez mais os laços entre os dois lados de uma fronteira fortemente entrançada por laços de amizade e uma ponte (da amizade).